Aquele cheiro de hospital nunca me reprimiu, mas naquele dia embrulhou meu estômago. Sentia a bile subindo a garganta. O som do tic-tac do relógio tornava a espera ainda mais longa. Fiquei mergulhada em pensamentos, em meu ato negligente que me rendera toda aquela preocupação.
Uma voz dissipou meus pensamentos, era o Doutor Danilo chamando pelo meu nome. Entramos no consultório, em silêncio absoluto.
- Eu sinto muito, mas os exames revelaram que a senhorita é soropositiva, disse ele.
Lágrimas escorriam pela minha face, um choro de desespero. Demorei alguns minutos para me acalmar, e então o doutor disse:
- Sei que é difícil, sinto muitíssimo mesmo. Mas o quanto antes começarmos com os medicamentos melhor vai ser o resultado. Eu vou lhe explicar como a sua doença funciona.
Só disse que sim, eu já sabia como a doença funcionava, afinal era uma enfermeira. Mas eu só não queria sair dali, a sala me protegia dos olhos preconceituosos das pessoas quando soubessem, era como uma armadura na qual queria viver para sempre. Queria acordar e descobrir que tudo era um sonho, que três meses antes não tivesse nenhum paciente com overdose, e que eu não tivesse me furado com a agulha que tinha sido usada para fazer-lhe punção.
Impossível, já estava infectada. A dor só crescia, o sentimento de culpa se agravava, chorei por noites e noites. Tentei ser forte, mas era pedir demais naquele momento. É tão difícil acordar,e saber que você tem AIDS e não pode fazer nada a respeito.
Eu me sentia deslocada da população, a ovelha negra que ninguém queria por perto. Perdi amigos, alguns familiares tiveram repulsa quando souberam, várias pessoas com quem me relacionei terminaram o relacionamento quando lhes contei sobre minha doença. O preconceito era grande demais, maior que minha dor por estar doente, era como minha doença, sem cura. E para piorar a minha situação, tive que sair do meu trabalho que tanto amava, por estar sempre em contato com pacientes enfermos, pela minha imunidade agora deficiente.
Teve um tempo em que entrei em depressão, tive vontade de morrer, não agüentava mais me privar de certas coisas, não agüentava mais aquele coquetel de remédios diários. Mas, para minha sorte, não fiquei sozinha, ainda havia pessoas bem informadas sobre minha doença que me deram todo o apoio. Não foi fácil superar, nem aceitar conviver com o preconceito, com a doença, com o meu descuido, mas consegui ter uma vida quase normal.
Voltei a fazer o que eu mais gostava: ajudar as pessoas, mas agora cuido do lado psicológico delas em uma clínica terapeuta, pessoas como eu, infectadas pelo vírus HIV, mostrando-lhes que nem tudo estava perdido e eu era um exemplo disso.
Veja aqui a Proposta de Redação UNICAMP 2008
Uma voz dissipou meus pensamentos, era o Doutor Danilo chamando pelo meu nome. Entramos no consultório, em silêncio absoluto.
- Eu sinto muito, mas os exames revelaram que a senhorita é soropositiva, disse ele.
Lágrimas escorriam pela minha face, um choro de desespero. Demorei alguns minutos para me acalmar, e então o doutor disse:
- Sei que é difícil, sinto muitíssimo mesmo. Mas o quanto antes começarmos com os medicamentos melhor vai ser o resultado. Eu vou lhe explicar como a sua doença funciona.
Só disse que sim, eu já sabia como a doença funcionava, afinal era uma enfermeira. Mas eu só não queria sair dali, a sala me protegia dos olhos preconceituosos das pessoas quando soubessem, era como uma armadura na qual queria viver para sempre. Queria acordar e descobrir que tudo era um sonho, que três meses antes não tivesse nenhum paciente com overdose, e que eu não tivesse me furado com a agulha que tinha sido usada para fazer-lhe punção.
Impossível, já estava infectada. A dor só crescia, o sentimento de culpa se agravava, chorei por noites e noites. Tentei ser forte, mas era pedir demais naquele momento. É tão difícil acordar,e saber que você tem AIDS e não pode fazer nada a respeito.
Eu me sentia deslocada da população, a ovelha negra que ninguém queria por perto. Perdi amigos, alguns familiares tiveram repulsa quando souberam, várias pessoas com quem me relacionei terminaram o relacionamento quando lhes contei sobre minha doença. O preconceito era grande demais, maior que minha dor por estar doente, era como minha doença, sem cura. E para piorar a minha situação, tive que sair do meu trabalho que tanto amava, por estar sempre em contato com pacientes enfermos, pela minha imunidade agora deficiente.
Teve um tempo em que entrei em depressão, tive vontade de morrer, não agüentava mais me privar de certas coisas, não agüentava mais aquele coquetel de remédios diários. Mas, para minha sorte, não fiquei sozinha, ainda havia pessoas bem informadas sobre minha doença que me deram todo o apoio. Não foi fácil superar, nem aceitar conviver com o preconceito, com a doença, com o meu descuido, mas consegui ter uma vida quase normal.
Voltei a fazer o que eu mais gostava: ajudar as pessoas, mas agora cuido do lado psicológico delas em uma clínica terapeuta, pessoas como eu, infectadas pelo vírus HIV, mostrando-lhes que nem tudo estava perdido e eu era um exemplo disso.
Veja aqui a Proposta de Redação UNICAMP 2008
SOBRE O AUTOR Juliana Gobbi Turma: 2.2 Ano: 2009 Juliana está cursando Enfermagem. |